Irmãs lançam marca social para mostrar a força da mulher negra em Florianópolis

Linda, negra e estilosa. Difícil imaginar que a modelo e ex-miss Florianópolis, Elisa Freitas, já tenha enfrentado alguma dificuldade de aceitação da própria imagem. Talvez nem ela conseguisse perceber até resolver parar de alisar o cabelo. Assumir os fios crespos foi também um divisor de águas para a irmã Ro, que é designer de interiores e viu na transição capilar um momento de ressignificação da personalidade. Moradoras de periferia e com projetos pessoais distintos, as duas perceberam que tinham muito mais em comum do que o simples fato de serem irmãs e resolveram se unir por um propósito: reforçar a identidade e a força da mulher negra.

Primeiro Elisa e Ro criaram uma marca social. Desenvolveram camisetas que trazem na estampa frases cheias de significado. Uma delas, inclusive, foi utilizada num show recente em Florianópolis pela cantora Sandra de Sá que de cara apadrinhou o projeto. Há uma semana elas inauguraram também uma exposição fotográfica reunindo várias mulheres negras e valorizando suas histórias. A mostra faz parte de um projeto maior de empoderamento dessas mulheres que muitas vezes se sentem invisíveis.

— Somos várias em muitos lugares, esse é o nosso slogan — diz Elisa.

Racismo, preconceito e desigualdade salarial são apenas algumas das dificuldades enfrentadas, como contam as irmãs nessa entrevista à Versar.

O que vocês pretendem com o lançamento do Projeto Resistence?
Queremos mostrar que Florianópolis também tem mulheres negras que podem estar no mercado da moda, mulheres comuns, mulheres que às vezes são invisibilizadas. São mulheres com muito potencial, muitas mestrandas, empreendedoras. Inicialmente pensamos num editorial com modelos, mas quando entramos em contato com as meninas do grupo Amigas Crespas nos emocionamos tanto que resolvemos mudar o foco e mostrar para essas mulheres comuns o quanto elas são lindas e podem ser empoderadas.

A exposição conta essas histórias?
Sim, conta quem são essas mulheres e o que elas fazem para que outras negras também se sintam inspiradas e se identifiquem com essas histórias como aconteceu conosco. As imagens contam ainda a história do nosso projeto e da nossa marca.

Qual o objetivo com a marca social?
As camisetas trazem muito da nossa vida, dos nossos processos pessoais, origens, histórias, momentos, família. Nós duas já tivemos processos de auto aceitação. Alisávamos os cabelos e quando assumimos o natural passamos por um processo de ressignificação da personalidade e identidade, de ver o quanto somos bonitas assim.

Já sentiram na pele o preconceito?
Sim, somos de uma época em que preconceito e racismo não eram comentados dentro de casa, então tivemos que aprender a falar sobre isso e em muitos momentos passamos por situações que não sabíamos identificar, mas hoje temos consciência e conseguimos falar abertamente. Por isso acreditamos que hoje temos essa missão de ajudar e fazer deste mundo um lugar melhor para viver.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras?
Acho que a questão do trabalho, a posição salarial é algo que a mulher negra sofre muito, e ela nunca é reconhecida, nunca é boa o suficiente, infelizmente nós temos que estar sempre sendo melhores.

De que forma imaginam que o projeto pode ajudar outras mulheres?
Mostrando para essas pessoas que é possível. Nós somos moradoras de periferia, mulheres lutando e isso serve como inspiração para que outras mulheres também lutem por seus objetivos.

Como foi o ensaio reunindo todas as mulheres?
No início muitas ficaram preocupadas, perguntavam que pose fazer, mas o resultado está aí, mostrando a força delas. Fotografamos num domingo, com pouco movimento na rua, mas mesmo assim as pessoas que passavam batiam palma, buzinavam. Quando a fotógrafa enviou as fotos ficamos emocionadas, deu sentido à nossa história e vida às nossas camisetas.

  • LOCAL Versar
  • ANO 2018
  • CATEGORIA